31 outubro 2005

Nikko


Cataratas de Kegon. Em Nikko, no Parque Nacional, um primeiro enfrentamento com a força da natureza no Império do Sol Nascente.
Neste sítio encontram-se indicações (em inglês) acerca do rico património (natural e cultural) desta região.

Santuário Toshugu (em Nikko)


Portal de entrada na zona santa de Toshugu. Estes portais (torii) são a forma própria do xintoísmo assinalar que se entra numa zona santa. Este santuário começou por ser um mausoléu para um shogun (generalíssimo, durante muito tempo o chefe militar que verdadeiramente governava o país), dentro da tradição xintoísta de culto dos antepassados mortos.
Nikko veio a ser, depois, um dos locais mais importantes do budismo no Japão. Foi aqui que pela primeira vez um membro da família imperial (um príncipe) foi abade de uma comunidade budista.
Estamos aqui, pois, num dos lugares que exemplificam a convivência entre budismo e xintoísmo, que se classificam (para as categorias ocidentais, que até as religiões racionalizam) como duas religiões distintas.

Segundo Masayuki Taïra, especialista de história do budismo no Japão, existiam neste país, desde a antiguidade e a idade média, oito seitas budistas, todas reconhecidas pelo poder temporal. Este princípio alarga-se para lá do budismo, ao xintoísmo e ao confucionismo (apesar de esta última doutrina não ser propriamente uma religião). Taïra expõe assim a razão desse “princípio da pluralidade dos valores”: “Os Japoneses pensaram durante muito tempo que existem no mundo pessoas inteligentes e pessoas imbecis, bons e maus – quer dizer, generalizando, indivíduos variados. É por isso que as religiões, cujo papel é guiar as pessoas para a salvação, deviam multiplicar-se para se conformarem a esta diversidade.” Porque é que os jesuítas (e quase todos os ocidentais) foram expulsos do Japão, depois de aí terem sido acolhidos no século XVI? Porque, face à pluralidade de seitas budistas e xintoístas que aí encontraram em coexistência pacífica, quiseram impor a sua própria religião como única. Só escaparam os holandeses, porque sendo protestantes pouco faziam para tentar conversões à sua religião – e só ficaram para efeitos de comércio. (Hisayasu Nakagawa, Introduction à la culture japonaise, Paris, PUF, 2005, pp. 80-82.)
Convém esclarecer que a convivência entre o xintoísmo e o budismo não é "mera" tolerância entre seguidores de religiões diferentes. O que se passa mais exactamente é que os japoneses praticam as duas religiões simultaneamente, quer dizer, uma ou outra consoante as circunstâncias da vida. Diria eu: praticam duas religiões à vez, sem estados de alma...

Visão de conjunto do santuário de Toshugu (pintura existente à entrada do local).


O pagode de cinco andares, que representa o budismo e que abriga uma estátua do Buda de cinco sabedorias.


Uma das estátuas de deuses guerreiros que ladeiam a porta principal (Nio-mon) de acesso ao Toshugu.


Lanternas portuguesas, num local onde existem lanternas provenientes de vários pontos do mundo, nalguns casos oferecidas por dignitários de potências amigas.


Parte superior do portal Yomeimon (nome que deriva da designação de uma das doze entradas do palácio imperial).


Uma das imagens integradas na parte lateral do portal Yomeimon.


Pormenor do portal Karamon (ou "de estilo chinês").


Detalhe de lanterna.


Os funcionários da fé ao trabalho, porque as religiões quase sempre acreditam pouco que os fiéis e os seus deuses possam entender-se sem uma burocracia que trate dos detalhes.


Como é sabido, o saké vai bem em qualquer lugar.

Santuário Futarasan (em Nikko)


À porta do santuário de Futarasan, uma prática omnipresente. Em troca de uma contribuição em dinheiro, normalmente de montante fixo e obrigatório, obtém-se um desejo ou um voto. Se o "desejo que sai" agrada, tudo certo. Caso contrário, ...


... apresenta-se o desejo à divindade e reza-se para que seja convenientemente melhorado. Formam-se, assim, autênticas "árvores de desejos".