06 novembro 2005

Kanazawa

Estação de caminho de ferro da cidade de Kanazawa: aspecto interior da entrada.


Um moderno Torii à entrada da estação ferroviária de Kanazawa.

Relógio de água ou relógio digital? Relógio digital de água! Frente à estação de comboios de Kanazawa dissolve-se o enigma: matar a sede e contar o tempo na mesma fonte...

Jardim do Hojo do templo Tofuku-ji (Quioto)


Plano do jardim do Hojo do Tofuku-ji, "Jardim das Oito Vistas" (versão original inserida no livro de Christian Tschumi, Mirei Shigemori: Modernizing the Japanese Garden, Berkeley, Stone Bridge Press, 2005 ).
Estamos aqui num complexo religioso com muitos templos, que é a sede da escola Tofuku-ji do Budismo Zen de Rinzai. Este espaço foi fundado em 1236, mas foi sendo modificado muitas vezes posteriormente. Vamos aqui focar-nos principalmente na última grande reconstrução do jardim, já no século XX.
Shigemori (1896-1975) foi o maior dos renovadores do jardim japonês no século XX, apostando em voltar à inspiração tradicional em vez de participar na importação dos modelos ocidentais.
O jardim do Hojo (instalações do abade) no templo Tofuku-ji é a sua primeira grande obra, datando de 1939. Shigemori ofereceu o projecto ao abade da comunidade budista (que não tinha meios para lhe pagar). O abade ofereceu algo muito valioso para Shigemori: prometeu que aceitaria o projecto sem modificações. E assim se fez. Um único pedido fez o abade e aceitou o artista: para honrar um princípio religioso, seriam aproveitados materiais que tinham sobrado da reconstrução do templo. Algumas das pedras deste jardim têm essa proveniência.


Na zona oriental do jardim, um aproveitamento de pedras que sobraram das fundações dos edifícios. Trata-se de uma representação da constelação da Ursa Maior, num céu nublado feito de gravilha penteada.


Na zona sul do jardim: os quatro grupos de rochas representam (como muitas vezes acontece nestes jardins) as ilhas dos imortais, enquanto os cinco montes cobertos de musgo (ao fundo) representam as cinco seitas do budismo Zen existentes em Quioto. A zona de musgo ao fundo, tal como a gravilha penteada, representam o mar.


Aspecto parcial das ilhas dos imortais no jardim sul.


Aspecto parcial das cinco seitas zen de Quioto, no jardim sul.


Ilha no mar de gravilha e ilhas no mar de musgo.


O jardim ocidental, inspirado nas paisagens de campos de arroz. A estrutura de base é uma quadrícula (uma espécide de tabuleiro de damas)marcada por pedras (coisa que se vê mal nesta imagem). Em algumas interpretações, representa-se aqui uma batalha, correspondendo aos dois tipos de preenchimento da quadrícula.



Pormenor do jardim do norte, no qual se aproveitaram mais restos de pedra da construção, desta vez para um desenho muito simples de xadrez pedra/musgo.


A estrutura de xadrez dispersa-se no jardim do norte, progredindo de uma malha clara e organizada para uma dissipação progressiva, até ao desaparecimento na pequena mata. Trata-se de um exemplo, entre outros, do uso que Shigemori fazia de elementos pontilhistas nos seus jardins, o que é um deslocamento relativamente às práticas dominantes no jardim tradicional.


A ver o mar, na gravilha. Coisa só possível num jardim metafísico.


Visão, ao longe (e num dia chuvoso), da passagem coberta que conduz ao hojo e respectivo jardim.

O castelo Nijo (Quioto)

Esquema do palácio dentro do castelo Nijo. Aqui ficava o shogun, que normalmente governava a partir de Tóquio, aquando das suas deslocações a Tóquio. Conjunto do século XVII.


Aspecto da entrada no palácio dentro do Castelo Nijo (lá dentro não há fotografias para ninguém).

«Segundo a interpretação do historiadores europeus, são os indivíduos que tomam a iniciativa de intervir no curso da história. […] Um acontecimento é, pois, o resultado de uma vontade. Ora, segundo a análise de Maruyama [Masao Maruyama, especialista de história das ideias políticas no Japão], nenhum facto histórico no Japão se explica como o produto de vontades individuais. A história é interpretada em princípio como se (a) todas as coisas se formassem por si mesmas, (b) sucessivamente e (c) com força. [Exemplo é o seguinte excerto da] declaração de guerra aos países aliados, e antes de todos aos Estados Unidos, pronunciada pelo imperador a 8 de Dezembro de 1941: […] Chegámos infelizmente ao ponto em que a guerra estoirou contra os Estados Unidos da América e o Reino Unido por uma necessidade que não podia ser de outra maneira. Teria sido assim por minha vontade?»
(Hisayasu Nakagawa, Introduction à la culture japonaise, pp. 19-20)

A este fenómeno chama o autor “lococentrismo”, para significar que, para o japonês, o que comanda e domina tudo é a força do lugar, as forças da terra no sítio onde se está.